Traços do capitalismo marcam diariamente a cultura indiana dando novos contornos a tradição local. Nas grandes cidades em meio às lojas de pequenos comerciantes, Startbucks, Mc Donalds e Subways são marcas de um tempo acelerado ditado pela lógica do consumo. Para voltar a verdadeira Índia é preciso conhecer os vilarejos, sair da cidade e ver de perto como vivem àqueles que participam de uma forma mais tênue do mundo globalizado.
Amadheo e Naman (foto ao lado) são exemplos disto, eles vivem num vilarejo no interior da cidade de Pune, no Estado de Maharastra, sul da Índia. Antes dos primeiros raios de sol despontarem eles já estão de pé, para alimentar as vacas, cabras e seguirem para o trabalho no campo. A tarde depois do almoço, deitam no chão embaixo de alguma sombra para um intervalo. Amigos inseparáveis, dividem a jornada de trabalho com algumas horas de prosa para apreciarem o tchai, um chá típico indiano. Em oposição ao que dizia Cazuza¹, lá o tempo parou. Parar o tempo significa cultivar um vida mais interiorizada em harmonia com a natureza, instantes para a contemplação, valorização das relações sociais e recursos locais – aqui também lembrando uma das bandeiras de Gandhi². O lixo quase não é um problema, os resíduos orgânicos servem de alimento para as vacas e cabras, não há a necessidade de consumo de produtos diferenciados, e, portanto, a geração de embalagens é mínima. O excesso de lixo é fruto de uma sociedade fragilizada voltada para o consumo e acúmulo de bens. Além de pensarmos e criarmos formas diferenciadas de gestão do resíduo é preciso constantemente rever a nós mesmos, a forma como vivemos e nos relacionamos com o ambiente e com aqueles que nos cercam. Enquanto isso Amadheo e Naman colhem as primeiras espigas de milho… Notas: ¹ Cazuza foi um dos principais compositores da música brasileira nos anos 80. O poeta do rock como era conhecido fez uma canção intitulada o “Tempo não Pára”. ²Mahatma Gandhi foi o líder que comandou o povo indiano para independência, a Inglaterra colonizou o país durante os anos de 1858 a 1947. Para além da independência física, Gandhi discutia formas de se restabelecer a cultura local diante da nova lógica de trabalho imposta pelo ocidente.